domingo, abril 9

A minha sorte é ter Vinícius de Moraes e Fernando Pessoa, que genializam em palavras os dois lados de mim que eu não seria capaz de expressar, a não ser de forma errada.

"Se eu morrer novo,
sem poder publicar livro nenhum
Sem ver a cara que têm os meus versos em letra impressa,
Peço que, se se quiserem ralar por minha causa,
Que não se ralem.
Se assim aconteceu, assim está certo.

Mesmo que os meus versos nunca sejam impressos,
Eles lá terão a sua beleza, se forem belos.
Mas eles não podem ser belos e ficar por imprimir,
Porque as raízes podem estar debaixo da terra
Mas as flores florescem ao ar livre e à vista.
Tem que ser assim por força. Nada o pode impedir.

Se eu morrer muito novo, ouçam isto:
Nunca fui senão uma criança que brincava.
Fui gentil como o sol e a água,
De uma religião universal que só os homens não têm.
(...)

Uma vez amei, julguei que me amariam,
Mas não fui amado.
Não fui amado pela unica grande razão -
Porque não tinha que ser.

Consolei-me voltando ao sol e a chuva,
E sentando-me outra vez a porta de casa.
Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados
Como para os que o não são.
Sentir é estar distraido."

Alberto Caeiro, 7-11-1915

Um comentário:

Unknown disse...

Wow! Que lindo, Pablito!
"Há metafísica bastante em Não pensar em nada" (Alberto Caeiro)